Mãos ágeis e delicadas, precisas e acolhedoras ao mesmo tempo. Iolanda Melo sabe o valor do toque, sabe o poder de transformação que as mãos têm sobre a pele. Entende que uma massagem bem feita é capaz de operar milagres no corpo e na alma. Quem a vê espalhando sobre a pele das freguesas doses generosas de talento misturadas a óleo essencial não imagina que não foi a massagem o início de sua trajetória profissional.
Iolanda sempre acreditou no poder da educação. Ela mesma viu como o estudo conduziu seu destino, ampliando caminhos na vida e na mente.
Nasceu em Caruaru, Pernambuco, a capital do forró, a mais velha dos filhos de um casal que não teve oportunidade de estudar. O pai motorista ganhava a vida no volante. A mãe não conheceu a escola e nem pode guiar o próprio destino. Só aprendeu a assinar o nome para tirar o título de eleitor com a ajuda da primogênita, já alfabetizada. Por verem o quanto era dura a vida de quem se via apartado das letras, incentivaram os filhos a ir além, a avançar na escola. Não é à toa que Iolanda aprendeu a lição. A fome de saber a levou sempre à frente. Até do próprio tempo.
Formou-se logo pedagoga, mas não parou quando se viu empregada. Convencida de que conhecimento não ocupa espaço e abre portas, fez uma pós-graduação em gestão escolar. Ainda era pouco. Optou por outra graduação em matemática e somando as oportunidades que ela mesma calculou para si, subtraindo as dificuldades, casou-se, teve os filhos e conciliou emprego, família e carreira com um mestrado em educação com ênfase em psicanálise, na Argentina.
Tudo o que Iolanda aprendeu era dividido. Com a família, com o mundo. Incentiva a todos que cruzam sua rota a também investirem na educação. E multiplicando a vontade de aprender, potencializando a inteligência alheia, ela foi conquistando tudo o que sonhou.
Criou os filhos, viu os 10 netos e uma neta chegarem. Esteve ao lado do marido diabético em todas as fases de sua vida. Quando a doença já complicava o movimento de suas pernas, ela percebeu que o marido precisava passar por sessões de drenagem linfática, uma técnica de massagem manual que tem como objetivo estimular o sistema linfático a eliminar o excesso de fluidos do corpo.
Sem encontrar um profissional qualificado, o que ela fez? Tornou-se ela mesma a profissional qualificada. Iolanda não mede esforços, nem permite que sua existência se estreite. Matriculou-se em um curso inicial de massagens e tomou gosto pela coisa. Aprendia nas aulas noturnas, praticava com o marido e as colegas da escola onde trabalhava durante o dia. Fez uma especialização atrás da outra, sem parar. Cuidou do marido doente até que a morte os separou em 2017, depois de 38 anos de casamento.
Com os filhos criados, aposentada do ofício escolar, ela decidiu tirar para ela o tempo que nunca teve, sem se dobrar aos limites da geografia. Pegou uma moto e a estrada, sem rumo calculado, disposta a desvendar por si mesma as belezas do nordeste brasileiro. Não apenas os cartões postais conhecidos do litoral, mas também o agreste, a caatinga, o sertão afetuoso e cheio de histórias.
No comando da moto e dos dias, Iolanda descobriu lugares que ela nem sonhava existir. Descobriu também muito sobre si própria. Juntou o conhecimento de psicanálise, aprendido no mestrado, aos cursos de massagem e percebeu que queria tocar as vidas das pessoas. Queria fazer da massagem ganha-pão e ferramenta de transformação.
Nas andanças pelo nordeste chegou a São José da Coroa Grande, em Pernambuco, na divisa com Alagoas. Fez planos, organizou-se e mudou-se para lá. Encontrou emprego em um spa intimista e aconchegante em Maragogi, Alagoas, onde recebe clientes do Brasil e exterior. Estava inteira, completa, feliz, ouvindo a si mesma, em uma casa grande e perto da natureza.
Aberta a novas experiências foi passear em Esperança, na Paraíba, com uma amiga também viúva. Foi com esperança de dividir alegria, de multiplicar sorrisos. Voltou com coração dividido. Conheceu lá um agricultor que se encantou por ela.
Inicialmente, Iolanda não deu conversa. Só depois, permitiu-se estreitar laços, ouvir a história de vida do pretendente. Não deu outra: se apaixonou.
A chegada de um novo amor era algo inesperado, mas também tão surpreendente. Ela se via feliz, mas temerosa, ao mesmo tempo. Não foi fácil enfrentar os filhos, que ainda sentiam a ausência do pai. Mas ela foi em frente.
Depois, precisou enfrentar muito mais ao mostrar para o mundo aquele relacionamento novo, cheio de frescor. Onde ela via amor e companheirismo, a família, os amigos e vizinhos viam uma mulher de 56 anos com um homem de 21.
Claro que ela sentiu tristeza ao saber das críticas e comentários perseguidores e machistas. A realização do casal parecia nem importar diante do escândalo da diferença de idade. Porém, Iolanda não se deixou abater. Assumiu aquele amor, trouxe o namorado para morar na nova casa. E trouxe o estudo também para a vida dele. Sim! Ele passou a ver a beleza do aprendizado ao se aproximar da beleza que ela exala.
Quando os filhos precisam de apoio e amparo, está sempre disposta a ser esteio da família, abraço caloroso.
Iolanda sabe também quando dar colo a si mesma. Sabe que além das mãos talentosas, da capacidade de aprender e acolher, sua maior qualidade é a coragem. Em sua jornada nunca faltou coragem para avançar, para tomar decisões. Coragem para amar e amar a si mesma, em primeiro lugar.
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