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A Beleza das Histórias: Salvar o Fogo

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Se “ Torto Arado”, romance de Itamar Vieira Júnior passado na Chapada Diamantina, também arrebatou você, é hora de desbravar “Salvar o fogo”, uma história de muitas vozes, como a vida deve ser...

A saga de uma família Silva (que ecoa em em tantas outras famílias do Brasil) é narrada por Moisés, o filho caçula; Luzia, a irmã que o criou; Maria Cabocla, outra irmã; e um narrador que apresenta o desfecho da história.

Nas páginas dessa obra única testemunhamos a força das mulheres do Nordeste, mulheres que sobrevivem a duras penas e que não se deixam envergar frente às dificuldades da lida, representadas ali pela protagonista Luzia, analfabeta, persistente, forte como a terra em que habita. É ela quem assume os cuidados com a casa e com o pequeno Moisés após a morte da mãe. O pai atua na roça que garante o parco sustento, geração após geração. Os irmãos fugiram da pobreza da Tapera.

Por insistência de Luzia, Moisés foi o único que estudou na escola do mosteiro, centro social da comunidade. Lá, além das letras que o encantaram, o menino descobriu a crueldade dos religiosos. Luzia era incumbida de lavar as batinas dos monges, mas também conhecia o mal que a “teologia do medo” pregada pela Igreja podia causar.

“Naquele mesmo mês, pôde contemplar mais fogueiras, as das viúvas, instaladas nas portas das casas das enlutadas. Escutou com interesse o som emitido pela pilha de lenha que queimava. Reproduziu o canto delicado e voraz do fogo com seu sons, sonhos, com sua vontade de experimentar.”

“Salvar o fogo” é uma história de sacrifícios, mistério, perseverança. A prosa lindamente esculpida pelo autor descortina temas que são velhos conhecidos da sociedade brasileira: o machismo, a violência contra as mulheres, o direito à terra, o preconceito, a suspeita da religião institucionalizada, as raízes africanas e indígenas. A obra critica a História contada da perspectiva dos vencedores, propagada ao longo dos séculos. Apresenta-se com raízes fincadas nas origens do país, na miscigenação, no abandono do Estado, no protagonismo feminino.

Itamar Vieira Junior sabe como poucos perambular por esses caminhos. É geógrafo de formação, doutor em estudos étnicos e africanos pela Universidade Federal da Bahia, servidor concursado do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), um exímio conhecedor das entranhas do Brasil.

De suas histórias coletadas no campo e magistralmente registradas nasceu primeiro “Torto arado”, que vendeu mais de 700 mil exemplares no Brasil, foi traduzido para 20 idiomas e vai virar série dirigida por Heitor Dhalia.

Neste “Salvar o fogo” autor continua a nos traduzir as consequências da real História do país, e a que se faz real nas vidas de tanta gente, que apesar da dor, do abandono, da injustiça, insiste em alimentar a fé e a esperança, assim como as fogueiras nas noites frias do sertão.

TÍTULO: Salvar o Fogo

AUTOR: Itamar Vieira Júnior

EDITORA: Todavia

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