Nossa Senhora do Nilo é avassalador. É dessas obras que vira o leitor do avesso, colocando em cheque sua crença na humanidade. É dessas obras que apresenta a realidade por um ponto de vista e com um apreço pela linguagem que transforma trajetórias.
A história se passa em uma escola para meninas, situada no alto das montanhas da bacia do Congo e do Nilo, em Ruanda, a 2500 metros de altura e próxima à nascente do grande rio egípcio. Dali do alto se aplica rigorosamente um sistema de cotas étnicas que limita a 10% o número de alunas da etnia tutsis. As desigualdades culturais, econômicas e sociais ficam claras entre as alunas no dia a dia escolar, no decorrer da história e da vida.
Quando os líderes do poder hutu tomam conta do país e do local, o universo fechado em que têm de viver as estudantes confinadas torna-se o teatro de lutas políticas e de incitações ao crime racial. Todo o medo, toda a dor, toda a coragem que cabe em meninas africanas cabe nessas páginas inigualáveis.
Os conflitos são um prelúdio ao massacre ruandês que aconteceria tempos depois. Em Nossa Senhora do Nilo, Scholastique Mukasonga, ela mesma sobrevivente do massacre, conta as experiências-limites pelas quais passaram as jovens do colégio, numa narrativa pungente que encantou o mundo. Você vai se deparar com uma das grandes vozes da literatura de nossos tempos, podemos garantir.
TÍTULO: Nossa Senhora do Nilo AUTORA: Scholastique Mukasonga EDITORA: Nós
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