Para quem acredita, do céu sempre cai o melhor. A chuva para amainar os dias quentes e a seca extrema, as bênçãos aos fiéis ávidos por milagres, os raios de sol para assegurar a vida na Terra. Na vida de Ana, a tragédia também foi atirada das alturas. Era uma manhã de sábado (e não um sábado qualquer) quando todos os planos da protagonista de “Não fossem as sílabas do sábado” vão por água abaixo. Desde aqueles planos singelos, como pendurar um quadro na parede, até os projetos para uma vida inteira. Tudo esfacelado.
No centro do quarto romance da paulistana Mariana Salomão Carrara, temos duas personagens em luto: Ana e a vizinha, Madalena, que só passa a preencher a vida da protagonista quando a morte ronda.
É uma história que começa com a morte, mas também sobre a nossa capacidade de prosseguir na jornada, mesmo com toda a dor e perda, mesmo juntando os cacos, mesmo vendo o medo e a tristeza tomarem tudo o que somos.
Mariana Salomão Carrara nasceu em 1986 em São Paulo. Ela também é autora de “Fadas e copos no canto da casa”, “Se deus me chamar não vou” (finalista do Jabuti 2020) e “É sempre a hora da nossa morte amém”. Pelo novo livro venceu o Prêmio São Paulo de Literatura 2023 e abrindo as páginas da obra fica claro o motivo. Apesar do tema denso e dilacerante, uma imensa dosagem poética se faz presente na narrativa. A tragédia dá origem a novas amizades, a possibilidades de recomeço, a novos amores e descobertas.
“Não fossem as sílabas do sábado” nos traz uma excelente obra de ficção acerca da imensa resistência feminina. Os homens estão perambulando pela narrativa tão forte e tão sensível, claro, porém, são quase figuras efêmeras, passageiras. É no feminino que reside toda a dor e a glória nessa história sobre abandonos e encontros, sobre perdas e ganhos, sobre tristezas e alegrias intercaladas. Principalmente sobre morte e muita vida.
TÍTULO: Não fossem as sílabas do sábado
AUTORA: Mariana Salomão Carrara
EDITORA: Todavia
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