Você lê no ônibus, no metrô ou no avião? Lê no banco da praça, testemunha do correr da cidade? Este livro é para você. “ Correntes” não para nem por um segundo: de ônibus, avião, trem e barco, o texto a acompanha em saltos de país em país, de tempos a tempos, de história a história, compondo um panorama do nomadismo moderno. E são os vestígios da nossa batalha com o tempo que a autora observa nos quatro cantos do mundo: das figuras de cera dos museus de anatomia aos meandros da internet, passando por mapas e planos de fuga.
Esta obra é fruto do talento de Olga Tokarczuk é o nome mais conhecido e celebrado da literatura polonesa contemporânea, ganhadora do Prêmio Nobel. O livro, lançado no Brasil peal editora Todavia, mobiliza e encena nossas grandes inquietudes, como a história de Kunicki, que, durante as férias, é obrigado a enfrentar o desaparecimento da esposa e do filho, assim como seu reaparecimento enigmático e enlouquecedor. Ou o da bióloga que retorna ao seu país para se reconectar com seu primeiro amor, agora nas últimas. Esta obra atesta, mais uma vez, a maestria da autora polonesa em criar personagens e situações que encantam, assustam e fazem pensar. O resultado é uma obra de arte irresistível, envolvente e sedutora a cada página.
“ Aprendemos naquela faculdade que somos compostos de defesas, escudos e armaduras, que somos cidades cuja arquitetura se resume a muralhas, paredes e fortificações: países de bunkers. Conduzíamos todos os exames, as anamneses e pesquisas entre nós mesmos, mutuamente. Assim, depois do terceiro ano da faculdade, eu já sabia dar um nome para o que havia de errado comigo; foi como descobrir o meu próprio nome secreto, o nome com o qual se invoca a iniciação. Não exerci a profissão para a qual me preparei por tanto tempo. Em uma das minhas viagens, quando fiquei presa sem dinheiro numa grande cidade e trabalhei como camareira, comecei a escrever um livro. Era uma história para ser lida em viagem, num trem — um livro que parecia ter sido escrito para mim mesma. Um livro-canapé para ser engolido de uma vez, sem mastigar. Eu conseguia focar e me concentrar, e por algum tempo me tornei um orelhão monstruoso que escutava ruídos, ecos e sussurros; vozes distantes vindas de trás de alguma parede. No entanto, nunca virei uma verdadeira escritora — ou, melhor dizendo, escritor, pois é nesse gênero que essa palavra soa melhor. A vida sempre me escapava. Topava apenas com os seus rastros, a pele que se desprendia. Quando conseguia determinar a sua localização, ela já estava em outro lugar”.
TÍTULO: Correntes
AUTOR: Olga Tokarczuk
EDITORA: Todavia
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