Pagu é eterna. A escritora e poeta Patrícia Rehder Galvão foi também diretora, tradutora, desenhista, cartunista, jornalista e militante comunista da política brasileira. Morreu em 1962, mas como continua atual.
Por isso celebramos cada página de “ Até onde chega a sonda”, em uma edição linda da Fósforo Editora.
Durante o Estado Novo, Patrícia Galvão, mais conhecida como Pagú — com acento, tal como assinava —, foi condenada por atividade comunista e detida em diversas prisões de São Paulo e do Rio de Janeiro entre 1936 e 1940, ocasião em que escreveu este texto. “Até onde chega a sonda”, de 1939, permaneceu inacabado e inédito até o presente momento, sendo uma de duas versões existentes. Trata-se, antes de tudo, de um escrito prisional que pode agora integrar um rol de livros do gênero, como os de Lima Barreto, Maura Lopes Cançado, Graciliano Ramos, Dyonélio Machado, entre outros.
Diferente de todos os seus textos anteriores conhecidos, aqui se vê a face interior de Patrícia Galvão. O contexto de angústia e de tortura física e psicológica é refletido no livro a partir de um forte teor existencialista, de repúdio à racionalidade e de busca constante por salvação. As referências a “As flores do mal”, de Charles Baudelaire, à Bíblia e aos escritos de Pascal dão pistas para a leitura, que se transforma em verdadeira sondagem. O manuscrito combina monólogos de alguém no limiar da loucura com passagens de um iálogo amoroso entre dois personagens: Mulher e Homem Subterrâneo, este, clara alusão à “Memórias do subsolo”, de Fiódor Dostoiévski.
A linguagem cifrada e a opção pela correspondência amorosa talvez tenha sido o modo encontrado para driblar a censura e revelam o quanto Patrícia estava conectada com seu tempo, desenvolvendo ideias filosóficas e imagens literárias que reverberariam em trabalhos posteriores, por exemplo, “A famosa revista” ou as crônicas dos jornais “A Noite e A Tribuna”.
Antecedido por um prefácio em que Silvana Jeha e Eloah Pina contextualizam a obra da autora, destrincham as principais referências intelectuais do texto e indicam possíveis caminhos para mais estudos, o livro conta ainda com documentos do prontuário da autora no Deops, incluídos como anexos, que contrastam com a imagem cristalizada pela opinião pública — um manifesto inédito, a cronologia da autora, uma carta militante e listas de livros apreendidos que desmistificam os sensos comuns sobre essa intelectual pouco estudada.
Cuidadosamente organizado por Jeha, “Até onde chega a sonda” é, portanto, uma nova porta de entrada ao universo de Patrícia Galvão; uma contribuição aos estudos e ao entusiasmo diante dessa mulher que foi, acima de tudo, símbolo de resistência.
Presente de Natal perfeito para as mãos, os olhos e a alma.
TÍTULO: Até onde chega a sonda
AUTORA: Pagu
EDITORA: Fósforo
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