Nossa infância gesta o adulto que seremos, molda nossas lembranças, nosso jeito, embala nossos sonhos. Ver uma mulher adulta recordar, com tanto afeto e dor, os dias de sua meninice é comprovar isso. E Simone Paulino sabe como ninguém contar as mais duras verdades, as mais dilacerantes tragédias com a escrita mais poderosa e delicada, mais bela, simples e (até por isso) tão sofisticada.
“Quando a dor lancina, alguns choram. Outros encarceram-se. Uns poucos gritam. Outros tantos oram. Eu, quando a dor me inflama, escrevo. Transformo lágrimas represadas em letras. Junto-as gota à gota até que o meu pranto se esvai de súbito numa torrente de palavras doidas”.
Os “retratos” da infância expostos aqui em “Em retratos” encontram-se com os “Abraços Negados” que tornaram possível que esta mulher fosse tão longe sem perder de vista sua origem. Os aromas eternizados nas memórias de criança, a cama pequena para tanta gente e tanto amor, o raro bolinho de chuva, o roxo do remédio, o amor da mãe, encapsulado em cada uma de suas células estão lá, dividindo espaço com a perda do pai, do irmão, as dificuldades de tempos brutos, as amarguras do amadurecer. A menina encontra a mulher, apaziguam-se, enternecem-se, para nos lembrar que o que passou faz de nós o que somos hoje.
A prosa cheia de poesia dessa autora brasileira nos garante um pequeno livro, ao mesmo tempo tão imenso, escrito entre luzes e sombras, com palavras enfileiradas com maestria, sabedoria e sensibilidade.
TÍTULO: “abraços negados em retratos”
AUTORA: Simone Paulino
EDITORA: Nós
Comments