Se é uma história passada em Minas Gerais tem pão de queijo. Quentinho, acolhedor, acompanhado de um cafezinho. Mas não se engane. As histórias surgidas das palavras de Carla Madeira não esbarram nos clichês.
Seus personagens são profundos, intensos, repletos de vida mesmo a beira da morte. São afeitos à palavras, livros e afetos. Em "A Natureza da Mordida" isso fica claro. Olivia e Biá se conhecem enquanto uma escreve e outra só quer ler e ser lida.
Biá, uma idosa, psicanalista aposentada, leitora veterana, registra memórias e sentimentos que gostaria de dizer, mas já não pode. Olívia, uma jovem jornalista, amarga luto e perda, e é salva da extrema tristeza pelos encontros com a nova amiga.
O vai e vem do presente e do passado intercala as lembranças de cada uma com os encontros esperados por elas, em capítulos curtos, emocionantes.
Estão as duas lidando com perdas acumuladas ao longo da vida, com ausências arrebatadoras, com separações mal resolvidas. Enquanto uma fala, a outra escuta, as duas leem as palavras não ditas, as pausas aflitas e melancólicas, e as histórias são expostas revelando porquês.
Tal qual pão de queijo quente, comido aos poucos, entre uma mordida e um sopro, há tamanha satisfação em ler a escrita delicada, a prosa cheia de poesia de Carla Madeira, ela mesma filha de Minas Gerais. Com absoluto merecimento, tornou-se um fenômeno com “ Tudo é Rio”, também resenhado nesta coluna. Chegou às listas de mais vendidos no país, aos debates , programas de tv e revistas, beirando os 150 mil exemplares, o que fez dela a autora brasileira mais lida de 2021. E é tão bom saber que a voz dela tem esse alcance...
TÍTULO: A Natureza da Mordida
AUTORA: Carla Madeira
EDITORA: Record
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